De como o trabalho pode deixar de ser um meio para ser um fim
em si mesmo na busca da satisfação, em que pessoal e profissional se fundem num
conceito mais amplo
Via de regra a ausência de satisfação e motivação no trabalho
esteve sempre associada a fatores externos: a vontade dos dirigentes da empresa;
o momento econömico, político e social; as demais idéias que se antepõem às
nossas, etc. Quase ninguém se lembra de associá-las à sua forma pessoal de
encarar o mundo e sua responsabilidade nos elementos positivos ou negativos
incorporados à sua vida.
Uma nova compreensão do que seja qualidade de vida no
trabalho começa a assumir conotação mais ampla e apresentar características bem
mais delineadas que a de simples ausência de conflitos e recursos no ambiente
profissional.
Ela começa introvertendo a concepção da
responsabilidade sobre aqueles efeitos indesejáveis, ou seja, ao invés do
profissional colocar a si mesmo no papel de paciente das ações da empresa e do
seu contexto ambiental, ele adota uma postura pró-ativa, interagindo com esse
contexto para adequá-lo às suas expectativas, e não apenas submetendo-se a ele.
Introverter para ampliar: embora essa expressão sugira um
paradoxo, a idéia é exatamente a de incorporar uma postura de olhar para
dentro antes de buscar culpados no ambiente externo, como se fôssemos apenas
vítimas das pressões externas - a chamada "síndrome de Pilatos". Significa que
passamos, cada qual, a ser co-responsáveis pelo efeitos sentidos no ambiente de
trabalho, que irá determinar o índice de qualidade de vida a ser estabelecido em
todo o seu contexto.
Na concepção anterior de busca de qualidade de vida entre
chefia e subordinados, era comum encontrar-se gerentes adotando posturas
destorcidas de "solidariedade" para com sua equipe, tomando suas dores contra a
empresa que pela sua visão não lhes proporcionava os recursos necessários. Na
maioria das vezes, porém, tal atitude era o caminho mais cômodo, uma vez que, na
maioria das vezes, não se preocupavam em esgotar todas as suas possibilidades
gerenciais antes de jogar "o mico" para cima.
Por seu turno, cada funcionário faz o mesmo, buscando na
chefia respostas para dificuldades que ainda não exploraram por seus próprios
meios.
O conceito atual de qualidade de vida no trabalho pretende
promover o resgate da autoconfiança nas pessoas através da busca primeira de
suas próprias potencialidades. Essa prática, com o tempo, não se manterá
restrita ao ambiente profissional, incorporando-se a tudo o mais que se
constituir no universo de cada um, dentro e fora das organizações por meio de
ações sob controle de cada indivíduo voltadas para a obtenção de resultados
pessoais e de equipes através de uma maior interação com o meio, reduzindo os
desgastes na relação com as pessoas e buscando a harmonia com os recursos
disponíveis, atuais e futuros.
Cabe ainda fazer uma abordagem de alguns fatores inerentes à
política de pessoal das empresas, que podem igualmente contribuir sobremaneira
para elevar o padrão de sua ambiência interna. Tem-se a errônea impressão de que
as pessoas temem e oferecem resistência aos procesos de avaliação de desempenho.
Na verdade acontece o contrário: as pessoas se desestimulam porque a falta de
uma avaliação efetiva se presta a abrir grandes espaços para ócio e inibir a
competência.
O que se entendia por Qualidade de Vida no Trabalho
vem mudando muito nos últimos anos. Há uma década apenas as empresas achavam que
promovê-la aos seus funcionários era oferecer-lhes um plano de saúde, um
refeitório ou "tickets" de refeição, auxílio-transporte, subsídios em
alguns gêneros de primeira necessidade e algum outro benefício que às vezes era
obrigação legal, e se agia como se fossem concessões especiais.
Os empresários de hoje, a partir de referenciais
internacionais, já se preocupam em tornar o ambiente de trabalho o mais atraente
possível para seus funcionários, considerando todo o seu contexto de
necessidades de desenvolvimento e realização profissionais, além do suprimento
das outras puramente fisiológicas que já se praticava anteriormente.
O aprimoramento das teorias de administração coloca a
satisfação do homem como aspecto fundamental para ativação de sua capacidade de
realizar e como mola propulsora para sua realização pessoal em harmonia com os
objetivos institucionais.
O homem moderno acordou para a realidade de que passa a maior
parte de sua vida envolvido com aspectos produtivos e profissionais, e que
precisa fazer disso algo que realmente lhe traga um retorno maior do que a pura
sobrevivência. E descobriu ainda que o trabalho pode ser uma fonte - talvez uma
das maiores - de realização pessoal, a partir da identificação de seus ideais
com a sua carreira na organização, que lhe possibilitará torná-los realidade.
O trabalho está aos poucos deixando de ser um meio
para se tornar um fim em si mesmo. Cada profissional está percebendo que é cada
dia mais difícil suportar empresas que fazem com que ele passe o dia inteiro
nelas esperando pelo final do expediente para poder, realmente, viver.
Ele já está consciente de que ali dentro se concentra a maior parcela de sua
capacidade de realização, e não quer mais desperdiçá-la para uso apenas nos seus
momentos de lazer.
O trabalho pode - e deve - se constituir numa fonte de prazer
e concretização de planos de vida, sem necessariamente afastar o trabalhador de
sua vida externa, mas sim completando-se com ela. Essa nova mentalidade é que
vem ao encontro dos atuais anseios humanos: de fazer de sua vida um manancial de
bem-estar que se estenda a todos os setores de atividade e a todas as áreas do
conhecimento, passíveis de se constituirem em experiências reais no seu
cotidiano.