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Qualidade de Vida no Trabalho

Publicado em: 29/09/2006
Escrito por:
Luiz Roberto Bodstein
LRB Consult Consultoria Organizacional
www.lrbconsult.cjb.net/

De como o trabalho pode deixar de ser um meio para ser um fim em si mesmo na busca da satisfação, em que pessoal e profissional se fundem num conceito mais amplo

Via de regra a ausência de satisfação e motivação no trabalho esteve sempre associada a fatores externos: a vontade dos dirigentes da empresa; o momento econömico, político e social; as demais idéias que se antepõem às nossas, etc. Quase ninguém se lembra de associá-las à sua forma pessoal de encarar o mundo e sua responsabilidade nos elementos positivos ou negativos incorporados à sua vida.

Uma nova compreensão do que seja qualidade de vida no trabalho começa a assumir conotação mais ampla e apresentar características bem mais delineadas que a de simples ausência de conflitos e recursos no ambiente profissional.

Ela começa introvertendo a concepção da responsabilidade sobre aqueles efeitos indesejáveis, ou seja, ao invés do profissional colocar a si mesmo no papel de paciente das ações da empresa e do seu contexto ambiental, ele adota uma postura pró-ativa, interagindo com esse contexto para adequá-lo às suas expectativas, e não apenas submetendo-se a ele.

Introverter para ampliar: embora essa expressão sugira um paradoxo, a idéia é exatamente a de incorporar uma postura de olhar para dentro antes de buscar culpados no ambiente externo, como se fôssemos apenas vítimas das pressões externas - a chamada "síndrome de Pilatos". Significa que passamos, cada qual, a ser co-responsáveis pelo efeitos sentidos no ambiente de trabalho, que irá determinar o índice de qualidade de vida a ser estabelecido em todo o seu contexto.

Na concepção anterior de busca de qualidade de vida entre chefia e subordinados, era comum encontrar-se gerentes adotando posturas destorcidas de "solidariedade" para com sua equipe, tomando suas dores contra a empresa que pela sua visão não lhes proporcionava os recursos necessários. Na maioria das vezes, porém, tal atitude era o caminho mais cômodo, uma vez que, na maioria das vezes, não se preocupavam em esgotar todas as suas possibilidades gerenciais antes de jogar "o mico" para cima.

Por seu turno, cada funcionário faz o mesmo, buscando na chefia respostas para dificuldades que ainda não exploraram por seus próprios meios.

O conceito atual de qualidade de vida no trabalho pretende promover o resgate da autoconfiança nas pessoas através da busca primeira de suas próprias potencialidades. Essa prática, com o tempo, não se manterá restrita ao ambiente profissional, incorporando-se a tudo o mais que se constituir no universo de cada um, dentro e fora das organizações por meio de ações sob controle de cada indivíduo voltadas para a obtenção de resultados pessoais e de equipes através de uma maior interação com o meio, reduzindo os desgastes na relação com as pessoas e buscando a harmonia com os recursos disponíveis, atuais e futuros.

Cabe ainda fazer uma abordagem de alguns fatores inerentes à política de pessoal das empresas, que podem igualmente contribuir sobremaneira para elevar o padrão de sua ambiência interna. Tem-se a errônea impressão de que as pessoas temem e oferecem resistência aos procesos de avaliação de desempenho. Na verdade acontece o contrário: as pessoas se desestimulam porque a falta de uma avaliação efetiva se presta a abrir grandes espaços para ócio e inibir a competência.

O que se entendia por Qualidade de Vida no Trabalho vem mudando muito nos últimos anos. Há uma década apenas as empresas achavam que promovê-la aos seus funcionários era oferecer-lhes um plano de saúde, um refeitório ou "tickets" de refeição, auxílio-transporte, subsídios em alguns gêneros de primeira necessidade e algum outro benefício que às vezes era obrigação legal, e se agia como se fossem concessões especiais.

Os empresários de hoje, a partir de referenciais internacionais, já se preocupam em tornar o ambiente de trabalho o mais atraente possível para seus funcionários, considerando todo o seu contexto de necessidades de desenvolvimento e realização profissionais, além do suprimento das outras puramente fisiológicas que já se praticava anteriormente.

O aprimoramento das teorias de administração coloca a satisfação do homem como aspecto fundamental para ativação de sua capacidade de realizar e como mola propulsora para sua realização pessoal em harmonia com os objetivos institucionais.

O homem moderno acordou para a realidade de que passa a maior parte de sua vida envolvido com aspectos produtivos e profissionais, e que precisa fazer disso algo que realmente lhe traga um retorno maior do que a pura sobrevivência. E descobriu ainda que o trabalho pode ser uma fonte - talvez uma das maiores - de realização pessoal, a partir da identificação de seus ideais com a sua carreira na organização, que lhe possibilitará torná-los realidade.

O trabalho está aos poucos deixando de ser um meio para se tornar um fim em si mesmo. Cada profissional está percebendo que é cada dia mais difícil suportar empresas que fazem com que ele passe o dia inteiro nelas esperando pelo final do expediente para poder, realmente, viver. Ele já está consciente de que ali dentro se concentra a maior parcela de sua capacidade de realização, e não quer mais desperdiçá-la para uso apenas nos seus momentos de lazer.

O trabalho pode - e deve - se constituir numa fonte de prazer e concretização de planos de vida, sem necessariamente afastar o trabalhador de sua vida externa, mas sim completando-se com ela. Essa nova mentalidade é que vem ao encontro dos atuais anseios humanos: de fazer de sua vida um manancial de bem-estar que se estenda a todos os setores de atividade e a todas as áreas do conhecimento, passíveis de se constituirem em experiências reais no seu cotidiano.

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